domingo, 26 de agosto de 2007

Contribuição ao Seminário Estadual do Movimento Esquerda Socialista

Debate Internacional

“Os Estados Unidos da América parecem destinados pela Providência a trazer a miséria à América, em nome da liberdade”.(Simon Bolívar, 1828)

Em 1915, início da primeira Guerra Mundial, na prisão, Rosa Luxemburgo, invocando uma frase de Engels no Anti-Dühring, sustentou que a história mundial se achava em face de um dilema: ou o socialismo vencia ou o imperialismo arrastaria a humanidade (como na Roma antiga) à decadência, à destruição, à barbárie. Embora a concepção marxista (dialética) da história não nos assegure nenhum resultado preestabelecido, hoje, após 92 anos de proferidas suas palavras, é inegável que, senão combatido e destruído, o capitalismo conduzirá a espécie humana à destruição.

A atual crise, conjuntural e estrutural, do sistema capitalista, perceptível na última onda de quedas das bolsas de valores na China, por exemplo, constitui um momento em que ele, em seu conjunto, aproxima-se de seus limites históricos e sistêmicos. Por isso, a violência (o aumento da criminalidade comum, as guerras, o terrorismo de Estado, etc), o desemprego, a retirada de direitos dos trabalhadores, a fome, a miséria, a devastação do meio ambiente, a guerra e o desespero das amplas massas são necessários para a continuidade do processo expansivo e auto-reprodutivo do capital.

Apesar de registrar um dos melhores períodos de crescimento do PIB – Produto Interno Bruto – dos últimos 20 anos, a economia mundial não consegue traduzir esse avanço em criação suficiente de postos de trabalho. Números divulgados no início do ano pela OIT – Organização Internacional do Trabalho – apontam que 2006 fechou com 195,2 milhões de pessoas no mundo desempregadas, o resultado mais alto da série iniciada na década de 90. O aumento do PIB mundial também não foi suficiente para tirar da pobreza 1,37 bilhão de pessoas que trabalham (47,4% do total), mas não têm salário suficiente para sair da miséria. Elas ganham menos de US$ 2 por dia. O que mais preocupa a OIT é que o período de crescimento da economia mundial está chegando ao fim e o desemprego deverá aumentar.

Entre as regiões, o pior índice de desemprego é do Oriente Médio, de 12,2%, seguido pela África, com 9,8%. O Leste da Ásia, com 3,6%, tem o menor índice, graças ao desempenho da China. Já nos países ricos, o desemprego caiu de 7,8% em 1996 para 6,2% no ano passado. Segundo a OIT, os jovens ainda são os mais afetados pelo desemprego e correspondem a 44% das pessoas sem trabalho. A OIT destaca que os homens continuam tendo melhores empregos e renda que as mulheres.

Nos últimos 10 anos, o problema da fome se agravou no mundo de um modo sem precedentes. Os indicadores da mortalidade infantil por causa da fome alcançaram, segundo dados da ONU, um nível nunca antes visto: 17 mil mortos por dia. No total, 25 mil pessoas morrem de fome diariamente. Hoje em dia, 777 milhões de pessoas, em países dependentes de regimes liberais, e 38 milhões em países onde se instauraram à imagem das democracias ocidentais, sofrem de fome. Mesmo nos "livres e democráticos" EUA morrem por ano, não menos de 1.800 norte-americanos, pelo simples fato de não terem seguro médico. Sem dúvida, a política dos regimes ocidentais tem levado a que milhões de pessoas vivam em condições de miséria.

Na luta por sua sobrevivência, pela manutenção da forma de exploração e do lucro, o capitalismo ataca e, em alguns casos, retira direitos historicamente conquistados pelos trabalhadores. Na França, ano passado, o primeiro-ministro Dominique de Villepin apresentou um Projeto ao Parlamento chamado CPE – Contrato do Primeiro Emprego –, que viria destruir conquistas no terreno do Código do Trabalho e do Contrato Coletivo, permitindo a contratação com maior facilidade de recém-formados, mas que, em contrapartida, não lhes daria por dois anos uma série de direitos trabalhistas. Após forte mobilização dos trabalhadores e da juventude francesa, o Presidente Chirac teve que recuar e revogar aquele que seria um dos maiores ataques aos direitos trabalhistas na França. No Brasil, apesar da Greve dos SPF’s e da mobilização dos trabalhadores e da juventude, Lula, contando com um alto grau de aceitabilidade e credibilidade de amplos setores da sociedade que viam nele perspectivas de mudança e de ruptura com o modelo neoliberal, aprovou a Reforma da Previdência, que taxou os inativos e abriu mercado para a previdência complementar privada.

Mas não é só no plano político-econômico que os ataques estão vindo, o capitalismo também tem gerado um cenário ecológico insustentável, com um padrão de produção e consumo que ameaça extinguir as condições para a reprodução da vida humana no planeta num futuro ainda indeterminado, mas cada vez mais presente. Pesquisas científicas recentes dizem que, ao passo que seguimos, ou seja, se o planeta continuar se aquecendo ao ritmo que se vem aquecendo, em menos de 100 anos a temperatura do planeta terá produzido um grande desgelo nos pólos, nas calotas polares e o terrível tsunami que castigou a costa da Ásia em 2005 e que causou a morte de mais de 200 mil pessoas parecerá pequeno se comparado com as ondas gigantes que arrasarão povos inteiros e fará com que países inteiros fiquem submersos. Se a camada de ozônio continuar sendo danificada, com o aparecimento de mais e mais buracos, e o sol continuar batendo, inclemente, a crosta terrestre, os incêndios, as temperaturas, as secas, etc, acabarão com boa parte da vida no planeta. Todavia, talvez, muitos antes que o desgelo ocorra, o planeta se veja incendiado por rebeliões violentas, porque os povos não se calarão conformados diante da imposição de um modelo imperialista e neocolonial.

Desde meados do século XIX, os EUA, guiados pela "doutrina Monroe", fazem intermináveis intervenções armadas contra os países latino-americanos. Prisões sem julgamento e execuções de revolucionários, como Ernesto Che Guevara, há muito tempo se tornaram uma característica integrante da "democracia" americana e do "estado de direito". O golpe militar no Chile, inspirado pela CIA e o assassinato do presidente Allende entraram na história como um dos crimes mais cínicos do imperialismo. Hoje prossegue o bloqueio a Cuba e as provocações sem descanso à Venezuela, porque ambos os povos escolheram uma via de desenvolvimento que se confronta com o imperialismo. Cuba resiste ao embargo econômico e tem conseguido fazer avançar as conquistas sociais e culturais da revolução, sobretudo na educação e na saúde, consideradas modelo no mundo. Na Venezuela, o povo tem imposto sucessivas derrotas aos EUA, seja contra o fracassado golpe para derrubar Hugo Chávez ou pela via eleitoral, a exemplo do referendo revogatório, e tem feito avançar a revolução bolivariana.

A América Latina vive um momento importante da luta anti-imperialista. Além de Chávez, Evo Morales, com diversas limitações, demarcou um espaço importante de resistência da luta dos trabalhadores com a nacionalização do setor de gás e de petróleo. A vitória de Rafael Corrêa no Equador também é reflexo desse momento. No México, apesar de seu alinhamento com o imperialismo, o conflito resultante da fraude nas eleições presidenciais e a mobilização na província de Oaxaca abalaram o país; no Chile, outro país alinhado com o imperialismo, os estudantes foram às ruas por melhores condições de educação e pelo passe-livre, contra o governo de Michelle Bachelet. Mas não é só na América Latina que há resistência!

O Movimento Anti-globalização que mobilizou milhares de pessoas em Genova e Seattle, as gigantescas manifestações contra a guerra no Iraque, a rebelião dos jovens contra a violência policial e o desemprego na França, a mobilização dos imigrantes nos Estados Unidos, as esperanças geradas pelo Fórum Social Mundial (em que pese a crise atual e os impasses que paralisam esta iniciativa), a surpreendente vitalidade da heróica resistência iraquiana, palestina e afegã, reforçada agora com a força do povo Libanês, que luta contra seu governo local, demonstram que o imperialismo está longe de vencer e impor sua dominação a humanidade.

Neste contexto de ápice da crise do capital, do acirramento de suas contradições e do surgimento, a cada dia, na América Latina e em diversas partes do mundo, de novos focos de resistência contra a sua dominação é que o PSOL assume um papel estratégico na luta anti-imperialista e anticapitalista, em particular, na América Latina.


OBS: Esse texto teve seu final cortado, por se tratar de uma Contribuição Interna ao MES / PP Pará.

Fabricio Gomes
Militante do PSOL / MES / PP
Coordenador Geral do DCE / UFPA – Gestão 2007 / 2008

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

O militante revolucionário e as organizações: um olhar dialético

“A dialética, como lógica viva da ação, não pode aparecer a uma razão contemplativa...” (Sartre, Crítica da razão dialética)

Segundo Marx, “a história de todas as sociedades que têm existido até nossos dias é a história das lutas de classes...”, todavia, mesmo o militante mais empenhado na luta pela transformação da sociedade se confunde, com freqüência, pela falta de uma organização, pois a ausência dela diminui-lhe as possibilidades de fazer história de modo consciente.

O militante isolado, normalmente, não pode fazer história: suas forças são muito limitadas. Em razão disso, o problema da organização capaz de levá-lo a multiplicar suas energias e ganhar eficácia é um problema crucial para todo revolucionário; pois é a partir dela que ele passa a intervir de forma coletiva e organizada na sociedade, a disputá-la politicamente e a apontar caminhos para se chegar a um horizonte estratégico socialista para humanidade.

Não estamos afirmando, porém, que a revolução seja propriedade das organizações, tampouco que os militantes desorganizados não sejam revolucionários, mas apenas reafirmando a necessidade de uma ferramenta política que nos auxilie na tomada do poder pela via revolucionária. É importante destacarmos que nesses últimos anos, temos assistido insurreições e revoluções em diversos países da América Latina, que depuseram presidentes e questionaram o sistema político ou regimes impostos pelos modelos neoliberais. A Revolução Bolivariana, iniciada em 1989, por exemplo, é prova viva de que os processos revolucionários, inicialmente, independem da existência de organizações revolucionárias, todavia, o não avanço desses processos para uma sociedade socialista, demonstra a falta que elas nos fazem.

Lênin, Trotsky, Rosa Luxemburgo, etc, foram grandes revolucionários que se somaram a organizações, mas não formados a partir delas. Eles sempre mantiveram um olhar dialético sobre suas organizações a fim de que não tivessem sua ação revolucionária contida por deformações da ferramenta. Este é um problema ao qual um militante jamais pode fechar os olhos. Ele deve cuidar para que a organização não se torne opaca para ele, que ele não se sinta perdido dentro dela; é preciso que ela não o reduza a uma situação de impotência contemplativa ou a um ativismo cego. Caso contrário, ele ficará impossibilitado de atuar revolucionariamente e se sentirá alienado na atividade coletiva. A organização deixa de ser o lugar onde suas forças se multiplicam e passa a ser um lugar onde elas são neutralizadas ou instrumentalizadas por outras forças, orientadas em função de outros objetivos.

A falta de uma visão dialética da realidade, muito bem trabalhada por Marx e Engels, mas ignorada pelo antidialético Stálin, tem influenciado de forma negativa na vida de muitos militantes, que acabam incorrendo no erro de transformarem as organizações em que militam numa espécie de ídolo sagrado, que não pode ser submetido a críticas profundas e que deve merecer todos os sacrifícios. Essa atitude, alienada, causa graves prejuízos tanto ao militante como à organização: os revolucionários que idolatram – ou fazem apologia – a organização em que atuam deixam de contribuir para que ela se renove e acabam facilitando o agravamento de suas deformações. Na medida em que ele não aprofunda suficientemente nem o espírito crítico nem a luta permanente pela democratização de todas as relações dentro da organização, ele mostra ser um mau revolucionário.

Quaisquer que sejam os caminhos que venham a ser trilhados pelo militante revolucionário, ele precisará se empenhar em elevar seu nível da consciência crítica, para poder participar mais efetiva e conscientemente do movimento de transformação da sociedade; e para isso precisará assimilar melhor e aprofundar o pensamento dialético, mediando as diversas realidades impostas a ele pela luta de classes.

Fabrício Gomes – Estudante do Curso de Direito da Universidade Federal do Pará e Militante do Partido Socialismo e Liberdade - PSOL.

Bibliografia:

- O que é dialética: Coleção primeiros passos. Leandro Konder. Editora Brasiliense S.A.. São Paulo, 1981.
- Revista Movimento Nº 2 – janeiro / fevereiro de 2005.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

A opressão de gênero também é um reflexo da exploração capitalista


Embora já tenhamos alcançado alguns avanços importantes em relação à inserção da mulher na política, na mídia, no mercado de trabalho, etc, não podemos nos iludir com os espaços conquistados, pois eles não existem para uma grande massa de mulheres proletárias, que ainda têm sua inserção na vida pública limitada. Tais conquistas estão longe de significar o fim da opressão, visto que ela também é fruto da exploração do sistema capitalista.

Como vemos, o homem não é o maior opressor da mulher, mas o próprio sistema ao qual estamos submetidos – mas não condenados eternamente -. A opressão de gênero está, indubitavelmente, enraizada nas sociedades capitalistas que universalmente combatemos, portanto, embora nossa tarefa não seja fácil, para começarmos a refletir sobre ela, é necessário entendermos que nossa luta é permanente, parte do esforço da construção socialista e de nossa formação marxista.

A opressão da mulher é um dos pilares fundamentais de manutenção e reprodução da exploração do sistema, por isso, um tema que deve ser pauta constante no seio dos Movimentos Sociais e jamais tido como um debate periférico ou de menor importância. Precisamos, conjuntamente, homens e mulheres, organizarmo-nos, debatermos e elaborarmos políticas para combater a opressão em todos os espaços da sociedade, sem esquecermos, contudo, que essa luta faz parte de outra muito maior, que é a superação do sistema capitalista e construção de uma sociedade socialista.

O debate da opressão enquanto reprodução da exploração capitalista, embora saibamos que ela esteve presente em outros sistemas, deve ser o alicerce de nossas discussões, a fim de que não incorramos no erro do debate antagônico: Homem x Mulher, que apenas reafirma uma visão simplória da realidade social. A nossa luta deve ser, primeiramente, contra a causa e não contra a conseqüência. “A igualdade não formal, mas sim real, da mulher, só é possível...depois da destruição do sistema capitalista e sua substituição por formas econômicas comunistas”. (Klara Zetkin e Alexandra kollontai, Terceiro Congresso da Internacional Comunista, 1921).

O exemplo de mulheres como Manuela Sáenz (Companheira de Simón Bolívar) deve ser abraçado por todos, ela largou tudo e seguiu para a fronte de batalha, combatendo bravamente na batalha de Ayacucho há 180 anos, no morro de Condorcunca, no “rincón de los muertos” (território dos mortos). Ela chegou até ali porque tinha uma consciência revolucionária e compreendia a grandiosidade de nossa luta. Não basta apenas ser consciente da sua condição de opressão e indignar-se com ela, é preciso que a mulher converta toda sua indignação em disposição de luta pela transformação da sociedade e modificação da própria história. As lutas específicas não podem ser pensadas fora das relações capitalistas que submetem Homens e Mulheres ao longo da História.

Em razão de ambos estarem submetidos ao mesmo sistema, “o problema da Mulher sempre foi um problema dos Homens” (Beauvoir, Simone) e, por conseguinte, os homens proletários, por também viverem a exploração capitalista, passam a ser peças fundamentais na construção de um movimento feminista forte e com unidade. Devemos avançar na construção de espaços comuns de discussão, pois a emancipação feminina está intrinsecamente ligada a uma emancipação convergente do Homem. Todavia, cabe as Mulheres, por serem mais diretamente objeto desse tipo de opressão, colocarem-se enquanto vanguarda na organização e formulação dessa luta, assim como no convencimento dos Homens dentro e fora desses espaços.

O Movimento Feminista precisa ampliar sua área de atuação, ganhando os bairros periféricos das cidades, as favelas e o campo. É preciso avançar dos espaços tradicionais de discussão, onde muitas vezes apenas se teoriza acerca da opressão, para aqueles onde a opressão poderá ser vista, não só no campo prático, como também na sua face mais cruel – a exclusão social. A luta contra a opressão deve ser travada internacionalmente, visto que em qualquer parte do mundo, a mulher sofre a ação nefasta desse sistema. As conquistas alcançadas em diversos países – assim como outras que se hão de alcançar -devem ser comemoradas por todos e tomadas como incentivo para a busca de um mundo possível e necessário, sem opressão.

A luta contra todas as opressões, injustiças e barbáries cotidianas é a luta contra o próprio sistema capitalista e deve fazer parte da vida de todo (a) o (a) militante que possua como horizonte estratégico um futuro socialista para a humanidade.


Fabrício Gomes – Estudante do Curso de Direito da Universidade Federal do Pará e Militante do Partido Socialismo e Liberdade - PSOL.

Bibliografia:
- Discurso do Presidente Hugo Chávez. IV Fórum Social Mundial. Porto Alegre, janeiro de 2005.
- Contribuição ao I Encontro Regional de Mulheres do Nordeste. Pernambuco, setembro de 2005.
- Klara Zetkin e Alexandra kollontai. Contribuição ao Terceiro Congresso da Internacional Comunista, 1921.
- Lacerda, Alessandra. Texto para a discussão de gênero / mulheres – Reunião Estadual da Juventude do PSOL. São Paulo, fevereiro de 2005.
- Santiago, Patrícia. Texto sobre feminismo. Rio de Janeiro, 2005.

Nota: Agradeço as companheiras revolucionárias Patrícia Santiago e Renata Duarte (UFF) por terem sido uma das principais responsáveis pelo meu avanço do nível de consciência no que concerne à discussão sobre feminismo. Embora ainda muito se tenha que avançar.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Por um mundo melhor, possível e necessário: socialista!

“Estou convencido de que apenas pelo caminho da revolução poderemos sair do atoleiro histórico em que estamos há séculos...” (Hugo Chávez)

“A história de todas as sociedades que têm existido até nossos dias é a história das lutas de classes... A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Não fez senão substituir velhas condições de opressão e velhas formas de lutar por outras novas.” (Karl Marx e Friedrich Engels. Manifesto Comunista. Publicado em 1948)

O capitalismo, no decurso dos anos, manteve e agravou a luta entre as classes, tornando o conflito ainda mais direto; modificou a forma de exploração, mas a exploração continua. Por isso, a nossa época, que é a época da burguesia e do capitalismo, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classes, a sociedade encontra-se dividida basicamente em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.

No decorrer da história, cada um, há seu tempo e com as armas que lhe eram disponíveis, esboçou heroicamente ações de resistência aos ataques do grande capital. Eram pessoas que, na maioria das vezes, não faziam parte de nenhuma organização revolucionária, mas que, indubitavelmente, possuíam uma consciência revolucionária. Eram homens e mulheres que não conseguiam ver com naturalidade as injustiças cometidas pelas classes dominantes.

É bem verdade que muitos tiveram suas vidas ceifadas no decurso desta árdua luta, mas que renasceram em cada um de nós. “Eles, os poderosos, podem arrancar uma, duas, até três rosas, mas jamais poderão deter a primavera.” (Che Guevara). E estamos aqui, militantes da causa revolucionária e aguerridos soldados do exército vermelho, ainda resistindo e lutando na perspectiva da superação do sistema capitalista e da tomada do poder pela via revolucionária.

Após a queda do muro de Berlim, deu-se início a uma campanha impulsionada pela mídia burguesa de que o socialismo havia morrido – havíamos chegado ao fim da história - e de que o capitalismo, finalmente, havia vencido e se consolidado como único sistema possível e viável para as diversas nações do mundo. Esta tese levou uma parcela majoritária da esquerda socialista a aderir o discurso de que a única tarefa possível para esse momento seria a luta por reformas, visando à construção de um capitalismo “mais humano”. Todavia, embora alguns tenham enveredado por esse caminho e abandonado a defesa e a busca de uma sociedade verdadeiramente socialista, nós temos nos mantido firmes na defesa de uma outra saída, que continua sendo lutar pelo único sistema capaz de romper com toda está lógica nefasta e neoliberal: o socialismo!

Em 1915, início da primeira Guerra Mundial, na prisão, Rosa Luxemburgo, invocando uma frase de Engels no Anti-Dühring, sustentou que a história mundial se achava em face de um dilema: ou o socialismo vencia ou o imperialismo arrastaria a humanidade (como na Roma antiga) à decadência, à destruição, à barbárie. Embora a concepção marxista (dialética) da história não nos assegure nenhum resultado preestabelecido, hoje, após aproximadamente 90 anos de proferidas as suas palavras, reconhecemos e reafirmamos que o capitalismo conduzirá a espécie humana à destruição. Que fazer?

Lênin, desde de 1902, no livro Que fazer?, empenhou-se apaixonadamente, no plano da teoria política, em abrir espaços para a iniciativa do sujeito revolucionário (e especialmente para a iniciativa da vanguarda do proletariado). Os seus estudos – principalmente os da obra de Hegel e as reflexões sobre o método dialético – foram de grande valia para sua análise do imperialismo e na elaboração estratégica que o levou a liderar a tomada do poder na Rússia, em 1917, pelos bolchevistas. O novo poder soviético despertou entusiasmo em círculos revolucionários e progressistas do mundo inteiro: era uma demonstração prática das possibilidades concretas que estavam ao alcance do sujeito humano disposto a transformar o mundo.

Eis a saída para humanidade: a revolução socialista! A Rússia de 1917 foi protagonizadora de um acontecimento histórico que serviu de exemplo para o resto do mundo, subjugado pelo sistema capitalista. E passados 88 anos, aqui estamos nós, alimentados por um sonho, lutando por um mundo melhor, possível e necessário. Em todas as partes do mundo, milhares de pessoas questionam nas ruas, a exemplo da última greve geral na França e das manifestações promovidas principalmente por imigrantes, a política de ataque aos direitos dos trabalhadores e da juventude. Na esteira de Seattle, vieram Nantes, Washington, Buenos Aires, Quito, Gênova, Florença e muitas outras cidades que viram milhares de jovens e trabalhadores num grito uníssono contra a globalização capitalista. Aqui no Brasil, este ano, na cidade de Porto Alegre, ativistas anticapitalistas do mundo inteiro se reuniram no IV Fórum Social Mundial para discutir alternativas ao capital e à globalização, e organizar e coordenar as lutas em escala mundial.

Na América Latina, temos assistido uma onda insurreições e revoluções. No Equador, Lúcio Gutiérrez foi o terceiro presidente a ser derrubado desde 1997; na Bolívia, em 2003, após uma semana de protestos que deixaram quase cem pessoas mortas, Lozada foi forçado a renunciar e, posteriormente, Mesa também; na Venezuela, Hugo Chávez segue se enfrentando com o imperialismo e reafirmando a soberania do povo venezuelano frente às investidas do imperialismo norte-americano.

No Brasil, embora a esperança da classe trabalhadora e da juventude tenha sido traída por Lula e o PT, o povo não se rendeu e nem deixou de acreditar, mas segue lutando e se enfrentando contra as investidas neoliberais, em busca de alternativas. No setor sindical, frente à capitulação da CUT – Central Única dos Trabalhadores – ao Governo, surge uma nova alternativa classista, cujo objetivo é dar continuidade à luta organizada dos trabalhadores: a CONLUTAS – Coordenação Nacional de Lutas. No movimento estudantil, embora o processo de ruptura com a UNE não esteja dado por uma parcela significativa do movimento, milhares de estudantes já adquiriram a consciência de que é preciso encaminhar a luta por fora da UNE, em razão de seu atrelamento político - por parte de sua direção majoritária (UJS – PCdoB) -, ao Governo do PT. Em 2003, com a aprovação da Reforma da Previdência e a expulsão dos parlamentares chamados “Radicais”, - Senadora Heloisa Helena (AL) e Deputados Federais João Fontes (SE), Luciana Genro (RS) e Babá (PA) – por terem se mantido intransigentes na defesa dos direitos dos trabalhadores, abre-se um novo ciclo para a esquerda socialista e democrática brasileira e com ele a necessidade do reagrupamento de todos os lutadores, de diferentes organizações e tradições políticas, em um partido capaz de nos levar a tomada do poder mediante a ação revolucionária do proletariado. E após quase três anos de traição de Lula e do PT, o PSOL – Partido Socialismo e Liberdade – já é uma referência e uma alternativa concreta para o povo brasileiro.

Como vimos, a história está sendo feita, cabe a cada um de nós passarmos a fazê-la mais decisivamente. O processo de superação do capitalismo pelo socialismo depende do nosso potencial de luta, da organização da classe trabalhadora e do vigor de uma juventude rebelde e revolucionária. Proclamemos abertamente que nossos objetivos só poderão ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente. Que as classes dominantes tremam à idéia de uma revolução socialista! Pois não temos nada a perder, a não ser nossas algemas...temos um mundo a ganhar.


Fabrício Gomes – Estudante do Curso de Direito da Universidade Federal do Pará e Militante do Partido Socialismo e Liberdade - PSOL.

Bibliografia:

- O que é dialética: Coleção primeiros passos. Leandro Konder. Editora Brasiliense S.A.. São Paulo, 1981.
- Manifesto Comunista. Karl Marx e Friedrich Engels. Publicado em 1948.

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